17.3.10

O educador como proponente da construção de memórias vivas.

Sobre o texto “Sobre Memórias” de Rubem Alves:



O papel do educador não se restringe a passar dados, informações e reflexões acerca de temáticas convencionais. A escola tem tendência a formar “memórias sem vida própria”. Blocos de conhecimento separados e herméticos, encaixotados em pilhas empoeiradas nas cabeças dos alunos. Neste aglomerado é que devem agir as propostas de interdisciplinaridade, promovendo conexões que agem de forma mais estimulante intelectualmente. Além disso, é necessário que professores transmitam “memórias com vida própria”, ou seja, promovam novas experiências aos alunos, fugindo um pouco das discussões convencionais para que o conhecimento desenvolvido cognitivamente penetre na vida prática.
Os dados informativos, fórmulas e datas históricas são importantes, pois juntos constituem um banco de dados que pode ser acessado por toda a vida. No entanto, sem uma memória empírica, a teoria pode ficar vaga e desconexa. A experiência, por ser única, pode não ser tão utilizável quanto a teoria, que generaliza situações, mas é a reflexão crítica acerca da realidade que dá vida a teoria. A constatação pessoal é algo que vai além da ciência, é a construção de uma memória viva, de um jogo de cartas mais rico do que uma pilha de afirmações paradigmáticas.
É a experiência que nos dá o poder da informação, a autoridade do saber vivido. O saber teórico, científico, está disponível em bancos de dados comuns, em que qualquer um pode ter acesso. Entretanto, o saber experimentado só está disponível na memória de quem o viveu. Por isso é tão importante que haja interações interpessoais, para que este saber tão peculiar possa ser multiplicado e compartilhado, tanto entre alunos quanto além muros professor-aluno. O aluno deve ter voz e estar ciente de que seu canal de ação e expressão está aberto e livre de censuras e tolhimentos, pois ele também é um ser detentor de um saber que pode ser confrontado e evoluído.
O ato de estudar significa construir bases firmes que possam hospedar experiências e direcioná-las a um campo produtivo. O ato de ensinar é continuar aprendendo, patinando sob a imensidão teórica sem deixar-se afogar.